Fibromialgia: a dor invisível que afeta milhões de brasileiros

Viver Bem Coluna

Por Adriana Biazoli

Em 2017, a cantora pop Lady Gaga revelou ao mundo seu diagnóstico de fibromialgia, cancelando uma série de apresentações por conta das dores incapacitantes causadas pela síndrome. Seu depoimento corajoso ajudou a romper o silêncio em torno de uma condição ainda pouco compreendida — uma dor crônica, invisível e muitas vezes desacreditada.

No Brasil, mais de 4 milhões de pessoas convivem com a fibromialgia, em sua maioria mulheres entre 30 e 60 anos. Trata-se de uma condição complexa, marcada por sintomas físicos e emocionais, que afeta diretamente a qualidade de vida. Embora silenciosa aos olhos, ela ecoa profundamente no corpo, na mente e na alma.

O que é a fibromialgia?

A fibromialgia é uma síndrome clínica caracterizada por dores musculoesqueléticas difusas, que persistem por mais de três meses. Além da dor, pacientes frequentemente relatam fadiga intensa, distúrbios do sono, alterações de memória e concentração, ansiedade e sintomas depressivos.

Embora não existam lesões visíveis, o sofrimento é real e profundo. Por isso, muitos pacientes enfrentam o desafio de lidar não apenas com a dor, mas também com o descrédito e o julgamento social.

A voz de quem sente

Beatriz O. Gonçalvez (nome fictício) recebeu o diagnóstico de fibromialgia em 2007, após meses enfrentando dores constantes, inchaços e uma sensação de fraqueza que parecia não ter fim. “Passei por inúmeros especialistas. fui diagnosticada por um médico idoso que, na escuta atenta, entendeu o que eu sentia. Foi ele quem me falou da fibromialgia”, relembra.

No caso de Beatriz, a síndrome se manifestou após um abalo emocional profundo. “Embora eu parecesse estar lidando bem com a situação, por dentro eu estava despedaçada. Segui forte, como sempre fui ensinada a ser, mas meu corpo se ressentiu. Quando a alma não encontra espaço para chorar, o corpo grita.”

Apesar das dificuldades, ela transformou a dor em resistência. “Aprendi a conviver com a dor, mas me recusei a permitir que ela me parasse. Sigo trabalhando, vivendo, me adaptando. A dor caminha comigo, mas não me define.”

Seu relato revela algo que muitos especialistas reconhecem: a conexão direta entre experiências traumáticas e o surgimento da fibromialgia. O corpo registra aquilo que a mente tenta suportar sozinha. E quando não espaço para a dor emocional ser expressa, ela se transforma em dor física.

Causas: o corpo como reflexo da alma

As causas da fibromialgia ainda não são totalmente esclarecidas. Estudos apontam para uma disfunção no processamento da dor pelo sistema nervoso central. O cérebro de quem tem fibromialgia amplifica os sinais dolorosos, tornando estímulos comuns em sofrimento físico real.

Entre os possíveis gatilhos estão:

  • Predisposição genética

  • Traumas físicos ou emocionais

  • Infecções virais

  • Distúrbios do sono

  • Estresse crônico

Também é comum observar alterações nos níveis de neurotransmissores como serotonina, dopamina e norepinefrina, substâncias que regulam o humor e a percepção da dor.

Caminhos para o alívio

Embora não haja cura, o tratamento da fibromialgia é possível — e deve ser feito de forma personalizada e multidisciplinar. Os principais recursos incluem:

  • Uso de medicamentos (analgésicos, antidepressivos, relaxantes musculares);

  • Atividades físicas regulares e leves, como caminhada, hidroginástica ou yoga;

  • Terapias complementares, como acupuntura, massagens e meditação;

  • Psicoterapia, para lidar com os aspectos emocionais da dor;

  • Educação em saúde, para que o paciente compreenda a síndrome e se torne agente do seu próprio cuidado.

Cada corpo reage de maneira única. Por isso, o tratamento precisa respeitar a singularidade de quem sente — com acolhimento, paciência e escuta ativa.

Quando a escuta é parte da cura

A fibromialgia não pode ser vista ao microscópio ou revelada em exames de sangue. Mas ela se manifesta em gestos interrompidos, noites mal dormidas e sorrisos que escondem desconforto. O que muitas vezes falta não é remédio, é escuta.

Histórias como a de Beatriz nos lembram da importância de olhar além do que os olhos veem. De reconhecer que o corpo fala — e que nem toda dor precisa de prova para existir. A empatia, nesses casos, pode ser o início da verdadeira cura.

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