Eternamente Paulo Freire, a história do imortal e sua contribuição
Poucos nomes da educação brasileira alcançaram tanto reconhecimento internacional quanto Paulo Freire. Nascido em 19 de setembro de 1921, em Recife (PE), Freire transformou a forma de pensar a educação no Brasil e no mundo, tornando-se referência incontornável quando o assunto é pedagogia crítica e emancipadora. Seu legado ultrapassa fronteiras e continua inspirando políticas públicas, movimentos sociais e práticas pedagógicas até hoje.
O método que alfabetizou pela consciência
A proposta de Freire nasceu de uma realidade concreta: a exclusão social e educacional dos mais pobres. Na década de 1960, ao desenvolver seu famoso “método Paulo Freire” de alfabetização, ele percebeu que ensinar a ler e a escrever não poderia estar dissociado do contexto de vida do aluno. Para ele, alfabetizar significava também despertar a consciência crítica.
Em Angicos (RN), em 1963, um de seus maiores experimentos ganhou repercussão: em apenas 45 dias, 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados. A experiência demonstrou a potência de um ensino conectado à realidade social, no qual as palavras aprendidas faziam parte do universo do aluno — como “tijolo”, “enxada” e “pão”.
Obras e pensamento pedagógico
Entre suas obras, a mais conhecida é Pedagogia do Oprimido (1968), considerada um dos livros mais citados do mundo nas ciências sociais. Nele, Freire defende que a educação não pode ser um ato de “depositar” conhecimento, mas um processo dialógico, em que professor e aluno aprendem juntos. Essa visão rompe com o modelo tradicional, que ele chamou de “educação bancária”.
Outros títulos importantes incluem:
-
Educação como prática da liberdade (1967)
-
Pedagogia da Esperança (1992)
-
Pedagogia da Autonomia (1996), onde resume princípios éticos e políticos para o educador.
Sua obra articula educação, política e cidadania, defendendo que ensinar é um ato essencialmente político e nunca neutro.
Reconhecimento mundial e exílio
O golpe militar de 1964 interrompeu seu trabalho no Brasil. Acusado de subversão, Freire foi preso e depois exilado, passando por países como Chile, Bolívia e Estados Unidos, até se fixar na Suíça, onde trabalhou junto ao Conselho Mundial de Igrejas. Sua atuação, no entanto, o levou a alfabetizar não apenas brasileiros, mas povos em países africanos recém-independentes, como Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Moçambique.
Freire recebeu mais de 40 títulos de Doutor Honoris Causa em universidades de diferentes continentes e, em 1986, foi homenageado pela UNESCO como um dos maiores pensadores da educação do século XX.
Retorno ao Brasil e legado
De volta ao Brasil na década de 1980, Paulo Freire assumiu a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo na gestão da prefeita Luiza Erundina (1989-1991). Implementou programas de alfabetização de jovens e adultos e reforçou a necessidade de uma escola democrática e participativa.
Em 2012, o Congresso Nacional reconheceu Paulo Freire como “Patrono da Educação Brasileira”. Sua pedagogia é hoje estudada em universidades do mundo inteiro, aplicada em projetos comunitários e em políticas de alfabetização e educação popular.
Um educador eterno
Paulo Freire faleceu em 2 de maio de 1997, em São Paulo, mas deixou um legado que permanece vivo. Sua pedagogia continua sendo um convite à reflexão crítica e à transformação social. Mais do que ensinar a ler e escrever, Paulo Freire mostrou que educar é libertar — e que cada ato pedagógico pode ser também um ato de esperança.