A Luz no Casarão da Penha: A História de Lucynha e o Resgate pelo Afeto  

Acontece Coluna

Por: Adriana Biazoli

Há casas que guardam histórias. E há histórias que transformam casas  e vidas. No coração da Penha, zona leste de São Paulo, um casarão outrora repleto de risos e cotidiano tornou-se, ao longo de quinze anos, o reflexo de uma dor silenciosa: a solidão. Entre pilhas de recicláveis, memórias soterradas e um vazio que se instalou após a partida de avós, pais e mãe, viveu Lucynha, 52 anos. Até que um jovem de fala doce e missão amorosa cruzou seu caminho.

Gui, do Diárias do Gui , página com mais de 4 milhões de seguidores , não veio para viralizar. Veio porque entende que o luto, quando não cuidado, vira ferida. E feridas, quando ignoradas, viram montanhas de coisas que tentam, inutilmente, preencher o invisível. Lucynha não se via como acumuladora. “Eu era uma recicladora”, diz. Até o dia em que percebeu: o que entrava nunca saía. E o que saía, de verdade, era ela mesma , da própria vida.

Foram cinco anos de choro após as perdas. Depois, as lágrimas secaram e deram lugar a um ritual de preenchimento: cada cômodo da casa, cada centímetro do quintal, ocupado por objetos que, em sua mente, eram “úteis”. Até que o espaço para ela e seu fiel cachorro  ficou tão pequeno que ambos passaram a dormir no quintal. Por dois anos.

O Resgate  

Quando Gui chegou, alertado por vizinhos que a chamavam de “agressiva” e “caso perdido”, ele não viu uma acumuladora. Viu uma mulher. Uma história. E uma chance de devolver algo que Lucynha julgara perdido: a dignidade. Com a paciência de quem sabe que cura não se impõe, mas se oferece, ele e sua equipe, com apoio da prefeitura,  removeram 50 toneladas de recicláveis em cinco dias. E, sob o entulho, resgataram algo maior: lembranças.

Uma colcha de infância. Copos com desenhos infantis. Pedaços de uma Lucynha que ainda acreditava na alegria.

A Coroa e o Reencontro 

Houve choro. Houve riso. E, em um gesto tão simbólico quanto poético, houve até uma coroação: Lucynha foi “intitulada” a maior acumuladora da série e aceitou o título entre gargalhadas, em um desfile improvisado que ecoou, pela primeira vez em anos, o som de felicidade naquela casa.

Gui não limpou apenas um espaço físico. Limpou a alma de Lucynha da mentira que a solidão insiste em contar: a de que ninguém se importa. “Nem sempre percebemos que estamos adoecidos”, reflete o jovem, cujo trabalho transforma o pesado em leve, o desespero em esperança.

O Mar de Lixo e a Mão Estendida 

Tudo que adoece precisa de cura. Lucynha estava submersa em um oceano de objetos, mas no fundo, era só uma mulher segurando como podia os cacos da própria história. Até que estendeu a mão. E Gui agarrou. Não para likes. Não para números. Mas porque, em um mundo que insiste em nos fazer crer no pior, ele escolheu acreditar no melhor: que ninguém está tão perdido que não mereça ser encontrado.

Esta jornalista aqui acredita no jornalismo que ilumina. E histórias como a de Lucynha são faróis. Em um planeta de indiferença, há seres de luz. Gui é um deles. Lucynha, agora, também.

Porque toda casa pode ser reconstruída. Inclusive a que mora dentro da gente.

Conheça o final desta história, siga o Gui, siga a gente.

@nossaoeste

@diariasdogui

Sobre a autora

Adriana Biazoli

Adriana Biazoli é jornalista, escritora, contadora de histórias e apaixonada pela arte de comunicar. Já atuou como radialista, apresentadora de TV e mestra de cerimônias, mas é entre crianças, festas e histórias que encontra sua verdadeira paixão. Com olhar sensível e escuta atenta, transforma encontros do cotidiano em narrativas que tocam o coração. Seu viver tem um propósito.

Instagram: @adriansabiazoli
Email: biazoliadriana@gmail.com

 

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