A música que venceu o coma: A história de Eli Moringa

Acontece Cultura

Após contrair Covid e ter 87% do pulmão comprometido, atingir uma saturação de 68 e ficar em coma induzido por trinta dias, Eli acordou com a música pronta na cabeça.

“O Covid veio para parar o mundo. Ela veio para nos mostrar que somos seres frágeis.”

“Voltei do coma com a música pronta na cabeça.”

A música inspira, movimenta, traz alento e, certamente, lhe trouxe de volta à vida. Quando pergunto a Eli sobre esse período, quando ele contraiu o coronavírus em setembro de 2020 e ficou em coma induzido na UTI entre a vida e a morte por trinta dias, ele diz que é como se um editor de vídeo cortasse um pedaço de sua existência do qual ele não se lembra. A única coisa que recorda é a música da vó Brandina, a letra de “Uma Cantiga para Brandina”, música que compôs para uma senhora de 98 anos que conheceu em Juazeiro da Bahia em 2017.

Foi em uma tarde chuvosa que fui presenteada com um repertório apaixonante. Aos poucos, fui descobrindo uma trajetória cheia de simplicidade e, ao mesmo tempo, preciosa. O tempo todo eu me perguntava: por que o Brasil inteiro não tem o privilégio que hoje eu tive de ouvir tanta poesia em versos tocados com tanta simplicidade?

 

Eli Moringa tem fala mansa, olhar sereno, traz a mansidão de um rio e compõe com a destreza dos grandes compositores. Natural de Salvador (BA), ele é o sétimo filho de oito irmãos. As dificuldades da infância vivida em Alagoinhas não povoam sua mente criadora — prefere reservar esse espaço somente para as boas lembranças.

A profissão de mecânico começou cedo. Aos 10 anos, foi trabalhar com um amigo da família sem remuneração. Esse segundo pai lhe ensinou um ofício que, posteriormente, foi aperfeiçoado.

Sua mãe, Maura Assis Batista, conhecida como Cigana, era uma mulher carinhosa, que exigia letramento. O pai, José Eustáquio Batista, o “Zeca”, era um homem trabalhador, que também gostava da festa de São João e apreciava boa música. Luiz Gonzaga era seu preferido, e o licor de jenipapo não podia faltar. Mas foi indo à vendinha do seu Senhor que o menino Eli ouviu no rádio do modesto estabelecimento a música “Triste Partida”, um clássico do compositor Patativa do Assaré.

Na adolescência, o trabalho era necessário para ajudar no sustento da família e, assim como os irmãos, ele também deu sua contribuição. Quando um violão foi deixado no estabelecimento de sua família, o jovem viu a oportunidade de aprender a tocar o instrumento. Nessa ocasião, conheceu Wellia Costa, sua primeira e única namorada, com quem casou e teve um casal de filhos.

“Naquela época, falar em viver de teatro e música era visto como coisa de ‘vagabundo’… No início, toquei muito sem cobrar, e só o fato de ser chamado já era uma grande coisa.”

Aos quinze anos, já tocava em barzinhos e festas. Nem sempre era remunerado, mas o contentamento de poder fazer o que amava valia muito a pena. Seu repertório incluía seus ídolos: Maria Bethânia, Raul Seixas, Luiz Gonzaga, Belchior, Fagner, Alceu Valença e tantos outros. Também houve um período em que cantou em uma banda e recebia um salário e meio. Era puxado: muitos ensaios durante a semana para as apresentações aos finais de semana. Nessa época, ele não escolhia o repertório, e isso o incomodava.

A vinda para São Paulo

“Não tinha objetivo nenhum de viver de música. Tocava mais para mim.”

“Vim para São Paulo para trabalhar. Não tinha o objetivo de viver da música. Queria trabalhar e formar família. Dessa maneira, busquei aperfeiçoamento como mecânico e trabalho até os dias atuais, mas concilio essa grande paixão tocando em diversos bares e participando de festivais.”

Biografia

  • Participou de diversas bandas, dentre elas, a Banda Rastafari.
  • Compôs para o projeto Gonzagueando, financiado pelo Fundo de Cultura de Jandira.
  • Participou do Festival de Barueri, ficando em 5º lugar.
  • Lançou o CD solo “Açucena – Flor do Sertão”.
  • Compôs música infantil.
  • Compôs músicas para a trilha sonora do filme “Corações Entrelaçados”, do roteirista e diretor Wismar Rabelo.

“A música é o meu norte. Eu me refaço tocando em um grande show ou sozinho, tendo como plateia meu cachorro e meus gatinhos.”

Eli não se autointitula cantor — ele se diz cantador. Mas a figura centrada, de fala mansa, provoca muitas emoções e nos faz refletir sobre a simplicidade e a beleza da vida. Um violão em mãos e, entre uma canção e outra, Eli vai falando das coisas da vida. Logo se nota que tem um temperamento tímido e prefere falar de outras coisas — e de si mesmo, apenas nas entrelinhas de suas composições.

Existem mistérios que não podemos decifrar. A Covid levou de nós pessoas próximas, famosos e anônimos, infelizmente sem a oportunidade de despedidas. Famílias aflitas esperavam pelo retorno, mas, em vez disso, receberam urnas lacradas.

A abençoada ciência, criada por Deus, nos propiciou a oportunidade de voltar à normalidade. Muitos não tiveram essa chance; a vacina não os alcançou. Eu demorei bastante para colocar no papel essa experiência única de ouvir as composições e saber um pouco mais da vida deste cantador. Dessa forma, agradeço a Deus por permitir que esse baiano de Alagoinhas ficasse mais um cadinho de tempo aqui conosco, tornando nossos dias mais felizes.

Siga as redes sociais de Eli, no facebook e no instagram ele divulga os locais onde se apresenta e suas músicas pode ser acessadas no Youtube e spotify  no link abaixo.

 

 

https://www.facebook.com/eliomar.assisbatista

https://www.instagram.com/eli.moringa/

Texto: Adriana Biazoli

 

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