Adultização: Felca alerta para exploração infantil nas redes e vira voz de resistência digital

Acontece Coluna

Em um momento em que o mundo online se expande à mercê do engajamento, o youtuber e comunicador Felipe Bressanim Pereira, mais conhecido como Felca,  lançou, em 6 de agosto de 2025, um vídeo impactante de quase 50 minutos sobre a adultização e sexualização de crianças e adolescentes nas redes sociais.

Com seu estilo marcante, que mistura ironia, humor e crítica afiada, Felca revela como os algoritmos acabam recomendando conteúdos que, ainda que possam parecer inofensivos aos olhos de responsáveis, servem como porta de entrada para pedófilos trocarem mensagens nesses espaços.

O vídeo rapidamente viralizou, ultrapassando 15 milhões de visualizações em poucos dias. Felca desativou a monetização e incluiu links para canais de denúncia e ajuda, reforçando o caráter de serviço público da publicação.

Do “circo macabro” à atuação concreta

No vídeo, Felca chamou determinados conteúdos de influenciadores mirins de “circo macabro”,  especialmente o caso de Hytalo Santos, investigado por exploração de menores. Ele demonstrou, de forma prática, como perfis que seguem crianças e adolescentes em redes sociais recebem, do próprio algoritmo, recomendações de outros conteúdos similares, ampliando o risco de exploração.

Após a repercussão, contas denunciadas foram removidas, e investigações foram retomadas ou intensificadas.

Respostas legais e solidariedade

Felca também foi vítima de ataques e acusações falsas, levando-o a processar 233 perfis por calúnia. Em alternativa ao litígio, propôs que os acusadores doassem R$ 250 a instituições que combatem a exploração infantil. Todo valor arrecadado será revertido para entidades como Childhood, Instituto Libera e Aldeias Infantis.

O papel dos algoritmos na exposição infantil

O funcionamento das redes sociais é movido por métricas de retenção de atenção. O algoritmo aprende o comportamento de quem interage com determinado tipo de conteúdo e, com base nisso, sugere vídeos semelhantes.

Esse mecanismo, quando aplicado a material com crianças em poses, danças ou situações sexualizadas, cria um ciclo de recomendação que alimenta redes de pedófilos e reforça a exposição indevida.

O alerta de Felca é claro: o problema não é apenas quem cria o conteúdo, mas a forma como a tecnologia o distribui e potencializa.

Impactos emocionais da adultização precoce

A exposição forçada à sensualidade afeta a saúde mental infantil de diversas maneiras:

Confusão de identidade: a criança assimila padrões de comportamento e imagem que não correspondem à sua maturidade emocional.

Perda de fases do desenvolvimento: pular etapas da infância em busca de “likes” compromete a espontaneidade e a experimentação saudável.

Vulnerabilidade a abusos: a exposição excessiva fragiliza barreiras de proteção e aumenta o contato com pessoas mal-intencionadas.

Culpa e vergonha: quando percebem o teor do que viveram ou foram induzidas a fazer, muitas crianças carregam marcas emocionais duradouras.

Estratégias de conscientização digital

Para enfrentar o problema, especialistas em educação e segurança digital recomendam:

  1. Educação para o uso consciente: ensinar crianças e adolescentes a diferenciar o que é entretenimento saudável de conteúdo prejudicial
  2. Supervisão ativa: responsáveis devem acompanhar de perto as interações online e conhecer as plataformas que os filhos utilizam.
  3. Configurações de segurança: ativar restrições de conteúdo e monitorar contas.
  4. Denúncia imediata: reportar perfis ou conteúdos suspeitos para as plataformas e, quando necessário, para autoridades.
  5. Diálogo aberto: manter conversas regulares sobre riscos e limites, evitando o tabu que impede a criança de pedir ajuda.

Felca, até então reconhecido pelo humor ácido e por satirizar fenômenos da internet, assumiu um papel sério e socialmente relevante. Ao transformar seu alcance em instrumento de denúncia e mobilização, mostrou que o entretenimento pode, sim, ser aliado da proteção infantil,  e que a responsabilidade de proteger a infância deve ser compartilhada entre famílias, sociedade e as próprias plataformas.

Adriana Biazoli

Sobre a autora:
Adriana Biazoli é jornalista, escritora, contadora de histórias e apaixonada pela arte de comunicar. Com sensibilidade e escuta atenta, transforma encontros e vivências em narrativas que tocam o coração. Avó de uma criança autista, escreve para informar, acolher e inspirar.
Instagram: @adriansabiazoli
Email: biazoliadriana@gmail.com

 

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