Avani dos Santos Figueiredo: a poesia bordada com memória, saudade e gratidão

Cultura Jandira

Por Adriana Biazoli

Nas estradas da vida simples e dura do sertão piauiense, nasceu Avani dos Santos Figueiredo. Filha de Manoel José dos Santos e de Dona Júlia Maria dos Santos, Avani veio ao mundo em 27 de junho de 1965, na localidade de Atrás da Serra, no município de Santa Cruz do Piauí. Ali, entre a terra vermelha e o canto dos passarinhos, brotaram as primeiras sementes da poesia que hoje florescem em sua alma.

Foi na roça, ainda menina, que Avani aprendeu a observar o mundo com olhos de encantamento. A rádio, recém-chegada à família, era como uma janela mágica. Através dela, a pequena ouvia os contadores de causos, os repentistas e os poetas do cordel que ecoavam das ondas da Rádio Difusora de Pernambuco. Ficava encantada com a poesia rimada, especialmente com a história do Pavão Misterioso, e se emocionava com as canções de Dom e Ravel, que agradeciam aos homens do campo – homens como seu pai, que partiu para São Paulo quando ela tinha apenas seis anos.

Seu Manoel, seu pai, foi um desses que partiram. Saiu em busca de sustento, fugindo da grande seca de 1970. Parte da viagem até Santo Inácio foi feita montado em um burro, e só então pegou um ônibus para São Paulo — o primeiro da sua vida. A saudade dos filhos era tamanha que, segundo ele, só não voltou porque não tinha condições. Precisou enfrentar a dureza da metrópole, fincar raízes em solo estranho e, com fé e trabalho, venceu até conseguir trazer a família para perto. Essa dor silenciosa virou força, e esse reencontro moldou a sensibilidade de Avani.

Dona Júlia, mesmo sem saber ler ou escrever, fazia da educação um valor sagrado. Incentivava os filhos com firmeza e ternura. E Avani, com urgência em aprender, começou a escrever para além das próprias necessidades: respondia cartas não apenas para a mãe, mas para outras mães, esposas e parentes que confiavam a ela o dom da palavra. A escrita era afeto. Cada carta era um abraço enviado pelo correio. O pagamento vinha em forma de bênçãos e gratidão: “Deus te abençoe, minha filha.”

Avani foi ponte. Como Dora, do filme Central do Brasil, ela levou notícias, acalmou corações distantes, escreveu com alma para quem não podia. A escrita, que nascia do cotidiano e da escuta sensível, foi se tornando poesia escondida, guardada por anos em cadernos discretos.

Mesmo sem se considerar cordelista, por não seguir à risca a métrica tradicional, Avani é poeta. Trabalha com rimas e com memórias. E em cada verso, existe uma mulher que soube amar, cuidar e resistir.

Casada há 39 anos com Manoel Borges Figueredo, amigo de escola e companheiro de vida, é mãe de cinco filhos e avó de nove netos. Viveu intensamente o papel de mãe e esposa, adiando sonhos, mas sem nunca desistir deles. “Sou uma eterna aprendiz”, diz com brilho nos olhos. A admiração pelo professor a inspirou a tornar-se educadora. Atuou em diversas funções ao longo da vida – trabalhou em casas de família, formou-se em corte e costura pelo SENAI de Jandira, fez curso de cabeleireira e, já adulta, concluiu o ensino médio por etapas, com pausas para cuidar dos filhos.

“Quando eu passava em frente à Faculdade Eça de Queiroz, meus olhos se enchiam de lágrimas”, lembra. A educação superior foi um divisor de águas. Formou-se em licenciatura em pedagogia e hoje atua como monitora escolar em uma escola municipal de Jandira, cidade que aprendeu a amar profundamente. Em 2012, uma música tocava repetidamente o coração da poeta – Esperança que renova a vida. Ela não a compôs, mas sentia, em cada verso, uma verdade que lhe pertencia. Uma letra que falava com sua alma.

Avani é filha da terra, do afeto e da resiliência. Suas palavras, ainda que simples, carregam o peso e a leveza das grandes histórias. Em cada poema, ecoam as vozes de sua mãe, Dona Júlia, e de sua avó, Maria Domingas – duas mulheres maravilhosas, presentes em sua memória e inspiração.

Sua vida é poesia viva. Uma poesia que nasce da escuta, do trabalho, da fé e do amor. Certas mulheres, como Avani, não precisam de palcos para serem grandiosas. Elas são poesia no silêncio da vida.

O leitor do Nosso Oeste, poderá usufruir em breve, o talento desta mulher que é poesia na essência.

Texto: com informações  da Participação da Avani no podcast da Ieda Pereira 

Imagens fornecidas

 

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