“Cora, ah, como eu queria tê-la conhecido… Sentada numa varanda qualquer, cercada de verde e de vida, ouvindo suas histórias. Mas é a doçura com que você lidava com tudo que me inspira — e me dá coragem de arriscar escrever, nem que seja um cadinho, sobre você.”
Antes de ser a escritora admirada, a mulher de cabelos brancos e versos doces como seus doces de figo, ela foi apenas Ana. Ana Lins dos Guimarães Peixoto. Nasceu em 1889, no coração de Goiás, e como muitas mulheres de seu tempo, carregou nos ombros o peso do “não pode”, do “não deve”, do “isso não é para você”.
Cresceu entre as pedras antigas da cidade de Goiás Velho, onde o tempo parecia dormir nas esquinas. Era filha de um desembargador, mas não teve acesso fácil à educação. Tornou-se mulher em silêncio, observando o mundo pelas frestas da janela e escrevendo às escondidas, porque ser poeta não cabia em seu destino traçado.
Foi analfabeta até os 14 anos. Mas aprendeu a ler, e depois a escrever — não com pressa, não com métrica, mas com coragem. Escrevia com alma, com as mãos cheias de farinha de trigo, entre um tabuleiro de doce e outro, entre os filhos, as contas e os lutos.
Cora Coralina floresceu onde poucos acreditavam que pudesse nascer poesia. Casou-se, teve filhos, ficou viúva cedo, enfrentou pobreza, preconceito, solidão. E mesmo assim — ou talvez por isso — escrevia. Guardava suas histórias em papéis amarelados, enquanto vendia quitutes para sustentar a casa.
Foi só depois dos 70 anos que publicou seu primeiro livro. Sim, depois dos 70! Quando muitos se aposentam da vida, ela escolheu estrear. Em “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”, abriu as portas de sua alma para o mundo. E o mundo se encantou.
Uma de suas cartas mais ternas é para sua filha Vicenza. Nela, Cora nos revela o que realmente importava: o amor pelos filhos, a fé na simplicidade, o valor da luta. É uma carta que não fala de feitos grandiosos, mas de ternuras que resistem. E é aí que está sua grandeza.
Cora não usava palavras difíceis. Sua poesia era como ela: simples, forte, cheia de chão e de céu. Falava de gente comum, de rios, de flores do cerrado, de fé, de dor e de recomeço. Por isso, nos toca tanto.
Conhecer Cora Coralina é como visitar uma avó doceira que sabe ouvir com os olhos. É descobrir que sempre há tempo para ser quem se é. Que não existe idade certa para florir.
Porque Cora não escreveu para impressionar — escreveu para permanecer.
Sobre a autora:

Adriana Biazoli é jornalista, escritora, contadora de histórias e apaixonada pela arte de comunicar. Já atuou como radialista, apresentadora de TV e mestra de cerimônias, mas é entre crianças, festas e histórias que encontra sua verdadeira paixão. Com olhar sensível e escuta atenta, transforma encontros do cotidiano em narrativas que tocam o coração. Seu propósito é ensinar pessoas a se comunicar bem — com palavras, com presença e com afeto.
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