No Brasil, o dia 13 de maio entrou para o calendário como o marco da abolição da escravatura. Um fato — apenas isso. Uma assinatura pressionada por abolicionistas, feita pela monarquia, sem o mínimo de estrutura para amparar aqueles que por séculos sustentaram o país com sua força e sua dor.
Em minha humilde opinião, a suposta liberdade chegou como quem bate a porta ao sair: fria, repentina e sem deixar chão. Aos recém “libertos”, foi entregue a escassez — sem terra, sem trabalho digno, sem lar, sem reparo, sem rumo. A abolição, feita no papel, ignorou o que de mais humano deveria estar presente: justiça.
Mas enquanto a história oficial registrava datas e decretos, nas frestas do tempo resistiam aqueles que não esperaram libertações formais. Gente que se rebelou, fugiu, construiu comunidades e defendeu com o próprio corpo o direito de ser livre.
E entre essas pessoas, Dandara dos Palmares se levanta como símbolo maior — mulher negra, quilombola, estrategista, guerreira. Uma líder que fez da sua existência um ato de insubmissão.
Dandara: mulher, guerreira e símbolo de liberdade real
Pouco se lê sobre ela nos livros escolares. Mas nos registros orais, na ancestralidade viva, na memória dos povos quilombolas, Dandara permanece. Viveu no século XVII, no Quilombo dos Palmares, e foi mais que companheira de Zumbi: foi liderança política e militar, peça-chave na organização da resistência contra o sistema escravagista.
Dandara lutou em batalhas, aprendeu a usar armas, organizou fugas e participou da construção de uma sociedade alternativa — baseada na liberdade, no trabalho coletivo e na dignidade do povo negro.
Ela não aceitou acordos que colocassem sua autonomia em risco. Não se curvou diante das forças coloniais. E, segundo os relatos, preferiu a morte à prisão, recusando-se a ser levada de volta à escravidão.
A sua luta foi prática, concreta. Sua liberdade não foi concedida — foi tomada, com sangue, com estratégia e com coragem. Dandara não esperou 13 de maio algum. Ela viveu como se já fosse livre.
Por que precisamos falar de Dandara hoje?
Porque sua história foi silenciada. Porque o protagonismo das mulheres negras sempre foi apagado. E porque a verdadeira abolição ainda está em curso — na luta antirracista, na memória coletiva, nas políticas de reparação e na valorização de figuras como Dandara.
Ela representa um Brasil que resiste. Um Brasil que ainda grita por justiça, por equidade, por reconhecimento. Relembrar Dandara é mais do que um gesto de respeito: é um compromisso com a verdade.
Dandara dos Palmares não é um eco do passado. Ela é voz presente, pulsante e necessária.
Este texto faz parte da série “Mulheres que Fizeram História no Brasil e no Mundo”, dedicada a resgatar, valorizar e contar — com sensibilidade e verdade — a trajetória de mulheres que marcaram nosso tempo, mesmo quando a história oficial tentou apagá-las.
Sobre autora

Adriana Biazoli é jornalista, escritora, contadora de histórias e apaixonada pela arte de comunicar. Já atuou como radialista, apresentadora de TV e mestra de cerimônias, mas é entre crianças, festas e histórias que encontra sua verdadeira paixão. Com olhar sensível e escuta atenta, transforma encontros do cotidiano em narrativas que tocam o coração. Seu propósito é ensinar pessoas a se comunicar bem — com palavras, com presença e com afeto.
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