Por: Adriana Biazoli
Há nomes que carregam história no próprio som. Joana D’Arc. Não a guerreira medieval, mas a cientista brasileira que também travou batalhas — não em campos de guerra, mas em salas de aula, laboratórios e ruas da periferia. Negra, nascida em Franca (SP), filha de uma empregada doméstica e de um operário de curtume, neta de pessoas escravizadas — Joana teve que vencer o silêncio, o preconceito e a pobreza para ser ouvida.
Aos 14 anos, entrou na Unicamp. Doutorou-se em Química. Viveu, por um tempo, nos Estados Unidos, onde frequentou atividades acadêmicas em Harvard como pesquisadora visitante. Mais tarde, admitiu que não concluiu o pós-doutorado na instituição — e foi honesta ao reconhecer o exagero. Mas a verdade sobre Joana não depende de prestígio estrangeiro. Está aqui, em solo brasileiro, em seus feitos que mudam vidas, e não apenas currículos.
Joana é pesquisadora, inventora, professora da ETEC de Franca desde 2004. Mais do que fórmulas e compostos, ela ensina jovens pobres a acreditarem em si mesmos. Transformou sua escola pública em um centro de inovação, onde já nasceram mais de 15 patentes. Por sua trajetória, coleciona mais de 70 prêmios, nacionais e internacionais, e o mais precioso deles: o reconhecimento de quem teve sua vida virada do avesso graças à ciência e ao afeto.
As descobertas que ecoam no mundo
📌 Pele artificial feita de derme suína
Joana desenvolveu uma pele sintética biocompatível com a humana, a partir da derme do porco — uma alternativa real para o tratamento de queimaduras e para testes farmacológicos sem uso de animais.
📌 Cimento ósseo de escamas de peixe e couro curtido
Um material moldável, sustentável e regenerativo, criado para reconstrução óssea. É usado em fraturas e até em cirurgias odontológicas, com baixo custo e alta eficiência.
📌 Colágeno para osteoporose
A partir de resíduos do curtume, extraiu colágeno com alto potencial para o tratamento de doenças como osteoporose e artrose, devolvendo dignidade a pacientes carentes.
📌 Fertilizantes orgânicos e organominerais
Desenvolveu cinco fórmulas sustentáveis que reaproveitam resíduos tóxicos da indústria coureiro-calçadista e os transformam em adubo fértil, fechando o ciclo do cuidado com o solo.
📌 Filtro de água com escamas de peixe
Solução simples, eficaz e ecológica que filtra água contaminada usando subprodutos da pesca. A invenção já foi apresentada em congressos no exterior e chamou atenção por seu impacto social.
📌 Tecidos hospitalares antimicrobianos e roupas retardantes de chamas
Criou tecidos que evitam infecções em ambientes hospitalares e uniformes que protegem bombeiros de queimaduras, unindo ciência à vida prática.
Ciência que nasce da escuta, da escassez e do chão da escola
A sala de aula é seu laboratório mais potente. Foi ali, cercada de jovens muitas vezes desacreditados, que Joana provou: não existe genialidade que valha mais do que o acesso ao saber. Por sua orientação, estudantes da periferia apresentaram projetos no exterior, venceram prêmios e mudaram suas trajetórias. Ela abriu portas para quem só conhecia muros.
Mesmo diante de polêmicas, Joana permanece firme. Não por vaidade, mas por missão. É uma mulher que veio da margem e decidiu ensinar ciência como quem oferece futuro. O Brasil precisa ouvi-la com respeito — e lembrar que a verdade de uma mulher preta, pobre e genial não cabe nos rótulos do sistema.
Reconhecimentos e prêmios (seleção)
🏅 Prêmio Kurt Politzer de Tecnologia (2014) – Pela pele artificial de porco.
🏅 Prêmio Faz Diferença – O Globo (2017) – Categoria Personalidade.
🏅 Convite para palestrar na ONU e em universidades internacionais, como Ohio (EUA) e Porto (Portugal).
🏅 Mais de 70 prêmios nacionais e internacionais, entre patentes, menções e honrarias.
Fontes consultadas
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Centro Paula Souza (cps.sp.gov.br)
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Justiça de Saia (justicadesaia.com.br)
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Folha de S. Paulo (folha.uol.com.br)
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Agência Eco Nordeste
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O Globo (eventos.oglobo.globo.com)
Foto Capa: ETEC/Divulgação
Sobre a autora:

Adriana Biazoli é jornalista, escritora, contadora de histórias e apaixonada pela arte de comunicar. Já atuou como radialista, apresentadora de TV e mestra de cerimônias, mas é entre crianças, festas e histórias que encontra sua verdadeira paixão. Com olhar sensível e escuta atenta, transforma encontros do cotidiano em narrativas que tocam o coração. Seu propósito é ensinar pessoas a se comunicar bem — com palavras, com presença e com afeto.
Instagram: @adriansabiazoli
Email: biazoliadriana@gmail.com