Não Tenho Mais Tempo (E o Natal Me Lembra Isso)

Coluna

Por Adriana Biazoli

Há um momento da vida em que a gente simplesmente entende: não temos mais tempo a perder.
E não se trata de pessimismo, mas de lucidez. Uma lucidez mansa, madura, que chega devagar, pousa nos ombros e nos convida a rever caminhos, refazer percursos e, quando necessário, voltar atrás para pedir perdão.

A verdade é que nunca tivemos realmente esse “tempo”. Sempre caminhamos na roleta-russa da existência, acreditando que cada capítulo teria páginas infinitas, até percebermos que o livro da vida tem limites, pausas, parágrafos finais.
E é justamente quando essa consciência floresce que nasce em nós uma serenidade nova: a de cortar arestas, evitar desencontros, alinhar o coração com aquilo que realmente importa.

O Natal e os silêncios que insistimos em carregar

Quando dezembro chega, a cidade muda de roupa. As luzes se acendem, os enfeites surgem nas janelas, o tempo parece respirar diferente. É como se o clima natalino ativasse memórias, afetos e, inevitavelmente, nos colocasse frente a frente com os silêncios que deixamos sem resposta.

É nessa época que famílias tentam se aproximar.
É quando a mesa reúne gente que talvez tenha se afastado sem motivo claro.
É quando lembramos que uma palavra mal dita , mesmo sem intenção, pode abrir feridas que se arrastam por anos.

Há tantas pessoas adoecidas por ressentimentos antigos, dores enterradas, mágoas que ninguém resolve porque ninguém fala. Doenças que nascem do que fica atravessado, mal digerido, mal conversado.

A beleza que substitui a juventude

A juventude passa.
Mas, em seu lugar, nasce outra beleza: uma que não se vê em espelhos, mas nas atitudes.

Ela vem revestida de sabedoria, daquela intuição que nos chama pelo nome e diz:
“Volta lá. Resolve. Finaliza bonito. Reconcilia. Reconstrói.”

É essa beleza que nos lembra que não há vergonha em retroceder. Vergonha é permanecer onde a alma já não cabe.

Reatar ou soltar: a sabedoria do limite

Se alguém virou as costas para você, tente compreender o que aconteceu. Busque o diálogo, ofereça sua mão, reconstrua pontes.
O Natal é uma dessas poucas épocas em que corações endurecidos amolecem,  e milagres pequenos acontecem nas entrelinhas.

Mas, se mesmo assim o outro insiste no rancor, afaste-se com serenidade.
O tempo conserta o que a urgência não alcança.

Porque quem se alegra com sua presença sempre encontrará um lugar para te preservar,  no coração, na memória e no afeto que não envelhece.

Um convite final

Que este Natal seja mais do que luzes piscando ou mesas fartas.
Que seja o tempo do reencontro,  não apenas com os outros, mas consigo mesma.
O tempo de desfazer nós, costurar rasgos e abrir espaço para o que é leve.

Porque, no fim das contas, não temos mais tempo.
E justamente por isso…
temos o tempo perfeito para amar melhor.

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