As imagens que viralizaram nas redes sociais e nos canais de comunicação em todo o país e provocaram grande indignação, mostra a morte de José Augusto Mota Junior, de 32 anos, enquanto aguardava atendimento na recepção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, o ocorrido trouxe à tona questões cruciais sobre a situação do sistema de saúde público no Brasil. Este caso não é apenas um dado estatístico; é o reflexo de uma tragédia que deixou marcas profundas em uma família e em uma comunidade inteira.
Segundo o pai José Adão da Silva, o filho foi socorrido por um vizinho:
“Ele chegou lá gritando de dor, pedindo atendimento e ninguém atendeu. Foi ficando lá sentado. Até que ele morreu com o pescoço tombado. Quem descobriu foi o pessoal que estava esperando atendimento também. Difícil, difícil demais. Pelas imagens, está claro. Se houver uma investigação e for constatado, eles têm que ser punidos”, lamentou.
As imagens viralizadas, provocaram forte comoção e indignação, demonstrando total abandono e descaso.
Quem era José Augusto?
José Augusto, um homem de 32 anos, era artesão e trabalhava como garçom durante a noite para complementar sua renda. Ele vivia na comunidade de Rio das Pedras, onde morava há 12 anos, conhecido por sua dedicação e esforço para sustentar sua família. De acordo com familiares, ele sofria de gastrite, uma condição aparentemente controlável que, com o tempo e a falta de acompanhamento adequado, evoluiu para uma úlcera.
Na noite de sua morte, José foi socorrido por um vizinho após sua dor ter se tornado insuportável. Ele foi levado à UPA Cidade de Deus, onde passou pela triagem e, posteriormente, foi deixado aguardando atendimento médico. Segundo testemunhas, ele urrava de dor enquanto esperava. A imagem de José sentado na recepção, lutando contra o sofrimento, é um retrato chocante da negligência enfrentada por muitos brasileiros que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS).
Relatos de Negligência
A família de José Augusto denuncia que a demora no atendimento foi um fator determinante para sua morte. Apesar de ter passado pela triagem, ele não recebeu a assistência imediata que sua condição exigia.
Casos como esse destacam a falha na estrutura e no funcionamento do sistema de saúde, onde pacientes, mesmo em situações graves, são tratados com desleixo e desumanidade. O relato de que José gritou de dor enquanto esperava é um apelo às autoridades e à sociedade para discutir e reformar o atendimento público em saúde.
A dor não é algo visível, como um diabetes, uma taquicardia, pressão alta, convulsão, a dor é algo que o paciente relata, no entanto , quem está na triagem nem sempre considera um fator de risco, mas pode ser um fator de risco, e pode ser sintomas de uma úlcera supurada, HDA (Hemorragia digestiva Alta) uma apendicite, uma Cólica renal ou seja, alguns relatos de dores intensas podem evoluir para um óbito.
Saúde Pública em Crise
O caso de José Augusto está longe de ser um fato isolado. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina (CFM), apenas em 2023, mais de 30% dos atendimentos emergenciais realizados no Brasil enfrentaram atrasos que comprometem a qualidade do cuidado. As principais causas são a superlotação, a falta de recursos humanos e estruturais, e a burocracia no gerenciamento das unidades de saúde.
Na UPA Cidade de Deus, a situação não é diferente. Frequentemente, as unidades de pronto atendimento sofrem com a falta de médicos, remédios e equipamentos. Isso resulta em pacientes aguardando por horas, ou até mesmo dias, para serem atendidos. Essa realidade coloca em risco vidas que poderiam ser salvas com intervenções rápidas e eficazes.
Impactos na Comunidade
A morte de José Augusto abalou profundamente seus familiares e amigos. Moradores de Rio das Pedras organizaram vigílias e mobilizações para chamar atenção para as condições precárias da saúde pública na região. A tragédia também levantou questionamentos sobre a necessidade de um treinamento mais adequado para os profissionais que realizam a triagem, garantindo que casos graves não sejam negligenciados.
Reformas Necessárias
O caso de José Augusto reforça a necessidade de reformas urgentes no SUS. Embora o sistema seja um dos maiores e mais abrangentes do mundo, ele enfrenta desafios enormes, como subfinanciamento, falta de profissionais e uma estrutura que não acompanha o aumento da demanda. Investir em tecnologia, ampliar a contratação de médicos e capacitar as equipes de triagem é fundamental para evitar tragédias futuras.
Um Chamado à Ação
A morte de José Augusto, não foi a primeira, e não pode ser em vão. Ela deve servir como um alerta para as autoridades e para a sociedade de que a dignidade no atendimento médico é um direito fundamental. Enquanto não houver soluções concretas para os problemas do SUS, histórias como a dele continuarão a acontecer, deixando um rastro de sofrimento e injustiça.
O nome de José Augusto deve ser lembrado como um símbolo de luta por um sistema de saúde que respeite e proteja a vida de todos os brasileiros.
Glaucia Martinelli / Redação