Nascida no Paraná, mas criada com alma e raízes paulistanas, Paula Teck Valério veio ao mundo por cesariana, em meio às urgências de uma hepatite e às mãos cuidadosas de uma mãe solo — Maria Aparecida, mulher forte, que mesmo com pouco, deu tudo. Paula cresceu sob o sol quente da periferia, com asfalto como palco e amigas de infância como plateia cativa: Maris, Virgínia, Simone, Cris, Luciana, Cleide… nomes que ecoam como versos de uma canção de resistência e afeto.
Ainda criança, brincava de ser paquita e sonhava em ser artista — “porque artista não tem gênero, tem essência”, diria ela anos depois. O primeiro ato dessa vida performática foi aos 11 anos, numa peça teatral escolar. O aplauso acendeu o que nunca mais se apagaria: a certeza de que a arte liberta. E, para Paula, liberdade é bandeira, é identidade, é verbo em constante movimento.
A adolescência chegou trazendo não só espinhas e descobertas, mas também dores que marcam a pele da alma. Aos 12 anos, sofreu abuso. Aos 19, se assumiu mulher transexual. Pagou o preço, viu portas se fecharem, mas não recuou: dançou, atuou, produziu, coreografou, idealizou. Fez do palco sua trincheira e da cultura, um ato político.
Hoje, diretora de Cultura em Jandira, Paula não é apenas gestora. É ponte. É quem sonha uma Escola de Artes como abrigo para talentos e afetos. É quem quer ver a Festa Nordestina renascer em novo formato, mais diversa, mais representativa. É quem transforma agendas em possibilidades, quem acolhe com a alma e não mede esforços para fazer da cultura um fermento de mudança social.
Sua trajetória é feita de espetáculos, mas também de silêncios gritantes. Já cantou para 20 mil pessoas, já conduziu um bloco de carnaval e brilhou no espetáculo Insanas. E ainda assim, carrega consigo a humildade de quem aprendeu que o mundo nem sempre aplaude o diferente — mas que isso nunca será desculpa para não subir ao palco.
À frente da ONG Portal Pela Vida, Paula ajudou jovens LGBTQIA+ a não desabarem quando o mundo pesava demais. Denunciou abusos, acolheu feridas, fez da própria história um abrigo. “Referência? Talvez. Mas, acima de tudo, uma pessoa que acredita em um mundo mais justo”, diz, com os olhos firmes de quem sonha acordada — e luta para que outros possam sonhar também.
Questionada sobre felicidade, Paula sorri: “É ter amigos que viraram família, um pet lindooo, acordar com saúde e trabalhar com o que se ama — e ainda receber por isso”.
E se pudesse falar com sua versão mais jovem? Diria: “Se prepara. A tempestade vem forte. Mas o arco-íris que vem depois… ah, esse é lindo demais!”
Ela é arte em carne viva. É resistência vestida de batom e coragem. É mulher, é trans, é cultura. É Paula Teck Valério — a tempestade e o arco-íris.
Por: Adriana Biazoli