
Gostaria que a matéria com os fatos a seguir fossem mentira, infelizmente não são. O grave é esquecer do ocorrido, então vamos relembrar e discutir o tema em uma reflexão profunda.
Está muito difícil educar e ser pais na atualidade. A maioria dos inimigos está escondida atrás de perfis falsos, não estão na sala de casa ou na rua em frente, e nós nos perdemos e nos sentimos inseguros porque nossos filhos não estão protegidos nem mesmo em seus quartos. 😔
Em 13 de fevereiro de 2023, mais um ataque a uma escola foi cometido por um jovem ostentando a suástica nazista. O episódio, que ocorreu em Monte Mor, no interior de São Paulo, ecoa um fato similar de 2023, em Aracruz, no Espírito Santo. A tragédia mais uma vez expôs a crescente vulnerabilidade de alguns adolescentes a ideologias extremistas. A ação foi planejada por três anos, com a intenção de causar o maior número possível de vítimas, incluindo o uso de coquetéis molotov, aprendidos na deep web, uma região obscura e mal regulamentada da internet.
Em Monte Mor, felizmente, não houve vítimas fatais, mas o ataque de Aracruz resultou em 13 baleados e 4 mortos — três professores e uma aluna. Em ambos os casos, identificamos padrões alarmantes: um planejamento cuidadoso, comportamento antissocial, fascínio por Adolf Hitler, uso da suástica, sentimento de superioridade e o discurso de vítima de bullying. Mas por que jovens tão aparentemente comuns se envolvem em atos tão destrutivos?
A adolescência e a busca por identidade
A adolescência é uma fase de intensas transformações, marcada pela busca por identidade e pertencimento. É um período no qual os jovens enfrentam inúmeros desafios emocionais e sociais: rejeição, isolamento, insegurança e frustrações. Quando esses sentimentos não são devidamente tratados ou acolhidos, eles se tornam terreno fértil para influências extremistas. A falta de apoio emocional em casa e o isolamento digital, alimentado pela exposição a conteúdos perigosos na internet, tornam muitos adolescentes suscetíveis a ideologias distorcidas, como o nazismo.
Nos últimos anos, a internet tem sido um canal cada vez mais presente na vida dos jovens. Porém, ao contrário do que muitos acreditam, nem toda informação é positiva ou construtiva. Em fóruns radicais e na deep web, esses jovens fragilizados encontram grupos que os acolhem e reforçam sentimentos de ódio e superioridade. Essa é uma realidade que muitos pais não conseguem enxergar, pois, em nome da “privacidade”, acabam se afastando do monitoramento da vida virtual de seus filhos.
A omissão e o papel da família
Muitas famílias se deparam com a realidade de jovens reclusos em seus quartos, escondendo suas verdadeiras intenções. Os pais, sem conhecimento do que seus filhos consomem na internet, são pegos de surpresa quando descobrem que seus filhos estão envolvidos em atos violentos. O caso do jovem de Monte Mor é um exemplo claro dessa desconexão familiar. Ele passou três anos isolado da escola, alegando ser vítima de bullying, enquanto planejava o ataque.
A questão não é apenas o isolamento, mas a falta de limites e o receio dos pais de “incomodar” os filhos. Muitos pais, na tentativa de conquistar o afeto e a aceitação dos filhos, evitam impor restrições rígidas. Eles se convencem de que “meu filho é um bom menino”, até que a realidade os surpreende. Aceitar que algo mudou em seu filho, que antes parecia ser bom, pode ser um dos maiores desafios de um pai ou mãe.
O impacto do bullying e a distorção do senso de justiça
O bullying é uma das portas de entrada para o radicalismo. Algumas vítimas conseguem superar esse sofrimento sem grandes sequelas, mas outras, infelizmente, cultivam o ódio e a sensação de injustiça. A diferença está no modo como esses jovens lidam com o sofrimento. Muitos, ao não receberem o devido suporte emocional, transformam a dor em vingança, odiando aqueles que os feriram ou aqueles que foram omissos. Esse senso de justiça distorcido, alimentado por um discurso de vitimização, pode culminar em ações extremas e destrutivas.
O papel das escolas e da sociedade
A escola e os educadores têm um papel crucial nesse cenário. É vital que o debate sobre ideologias extremistas, como o nazismo, seja trazido à tona de forma profunda e educativa. O nazismo não pode ser tratado superficialmente nas escolas, assim como a escravidão, o genocídio e outras atrocidades históricas. Ao ensinar a história do Holocausto, não podemos apenas falar sobre os campos de concentração; é preciso mostrar que as sementes da supremacia branca foram plantadas muito antes, em discursos e comportamentos diários.
Outro exemplo importante é o genocídio de Ruanda, em 1994, quando grupos hutus massacraram 800 mil tutsis. A desumanização dos tutsis foi alimentada por uma intensa campanha de ódio e estigmatização, muito parecida com a retórica nazista. Como os nazistas viam os judeus como ratos, os hutus viam os tutsis como “baratas”, o que justificava sua morte brutal.
Unidos pela educação e pela empatia
Para evitar que essa ideologia de ódio se espalhe, é essencial a união entre pais, educadores e a sociedade como um todo. A educação deve ir além de números e fórmulas. Ela deve ensinar valores como empatia, respeito às diferenças e solidariedade. Precisamos conversar sobre temas difíceis, como bullying, genocídios, escravidão e o Holocausto, para que nossos jovens compreendam os horrores do passado e se tornem guardiões da justiça e da paz.
A responsabilidade é nossa. A solução passa por um esforço conjunto para educar e observar de perto aqueles que, no silêncio de seus quartos, podem estar cultivando ideias de ódio. A suástica pode estar escondida não só na internet, mas dentro de nossas próprias casas, em pensamentos que não foram tratados e em sentimentos de frustração que não foram compreendidos.
Sobre a autora
Adriana Biazoli é jornalista, escritora e apresentadora. Apaixonada pela arte da comunicação, atua como contadora de histórias, apresentadora, Mestre de Cerimônias e ministra cursos para ajudar pessoas a se expressarem melhor. Acredita que palavras bem empregadas podem transformar vidas.
Instagram: @adrianabiazoli
Email:biazoliadriana@gmail.com
01/04/2025
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