Há mulheres que escrevem a história com palavras. Outras, como Tarsila, a escrevem com cores.
Nascida em 1886, em Capivari, interior de São Paulo, Tarsila do Amaral cresceu entre as fazendas do café e os livros de arte. Mas foi muito além do cenário rural: atravessou oceanos, frequentou ateliês na França e mergulhou nas vanguardas europeias. Lá fora aprendeu técnica — aqui dentro reencontrou sua raiz.
Tarsila queria pintar o Brasil com olhos brasileiros. Mais do que copiar estilos europeus, sonhava dar voz à terra que a formou: o povo, a cor, a natureza, as mãos calejadas e as histórias esquecidas. Foi uma das principais figuras do Modernismo brasileiro, movimento que sacudiu as artes, a literatura e a identidade nacional nos anos 1920.
Foi dela o traço que deu corpo ao famoso quadro “Abaporu” (1928) — um ser com corpo gigante e cabeça pequena, plantado num chão tropical. A imagem virou símbolo do movimento antropofágico, que propunha “devorar” influências estrangeiras para recriar uma arte verdadeiramente brasileira. Tarsila pintou o Brasil com afeto e ousadia.
O Brasil reinventado nas telas
Suas obras não eram apenas quadros — eram manifestos de brasilidade, de um país profundo, vibrante e muitas vezes invisível às elites. Ela pintou o operário, o morro, a igreja, o cacto, o chão de barro. Pintou as cores que não cabiam na paleta oficial da arte acadêmica. Seu olhar era livre, corajoso, feminino — e nosso.
🌵 “Abaporu” (1928)
🛕 “A Negra” (1923)
🌇 “Operários” (1933)
🌿 “Antropofagia” (1929)
🏞 “Sol Poente” (1929)
Cada obra é uma janela para um Brasil que ainda pulsa, resiste e se recria.
Muito além das telas: um legado que atravessa gerações
Tarsila foi mulher em um tempo em que o mundo da arte era masculino e elitista. Mesmo assim, se impôs com elegância e firmeza. Suas pinceladas deram contorno à identidade cultural brasileira. Inspirou artistas, escritores e pensadores. Fez da arte um instrumento de identidade e resistência.
Morreu em 1973, mas sua obra segue viva, presente em museus, livros didáticos e exposições internacionais. Sua pintura já foi exposta no MoMA de Nova York, no MASP, na Pinacoteca de São Paulo e em tantos outros lugares onde o Brasil se faz ver com orgulho.
Tarsila foi e é um patrimônio da nossa alma artística
Por que falar de Tarsila hoje?
Porque ainda é preciso lembrar que as mulheres fazem arte, fazem história e fazem país.
Porque ainda tentam apagar vozes femininas da cultura — mas Tarsila segue ali, firme, pincelando cor em nossas memórias.
Ela é uma das mulheres que o site Nossa Oeste tem orgulho de reverenciar. Porque reconhecer o passado é uma forma de garantir que ele nunca mais seja esquecido.