Quase dois meses internada, 23 dias entubada, três paradas cardiorrespiratórias, infecção generalizada e desenganada pelos médicos.
Regiane Fenerich Bila, 40 anos, meia oficial de cozinha, moradora de Jandira, casada com Amilton e mãe de dois filhos, Murilo, de 10 anos, e Grazielly, de 22 anos, viveu uma verdadeira batalha pela vida. Foi a primogênita quem compartilhou sua emocionante história com o Nossa Oeste.
Em meio a um cenário devastador, cerca de um ano e três meses após a primeira morte causada pelo coronavírus e com mais de 500 mil vítimas fatais no Brasil, histórias de superação como a de Regiane trazem esperança. Enquanto a vacinação avançava entre os idosos, a Covid-19 continuava a atingir milhares de pessoas, incluindo aqueles que ainda aguardavam sua vez de receber o imunizante.
Regiane não tinha comorbidades e raramente adoecia. Trabalhava na cozinha de um hospital privado na região, um ambiente de alto risco. Mesmo com os cuidados da família, ninguém imaginava que a doença pudesse atingi-los de forma tão brutal. No início de maio, começou a sentir um cansaço extremo. Fez o exame e, enquanto aguardava o resultado, se isolou em um quarto da casa. No dia 5 de maio de 2021, veio a confirmação: positivo para Covid-19. Ainda assim, relutou em procurar atendimento médico. No dia 10, com uma tosse persistente e falta de ar intensa, não teve mais escolha: buscou ajuda. No mesmo dia, foi internada e transferida para um hospital especializado em Covid-19 em São Bernardo do Campo.
No início, ainda conseguia manter contato com a filha por mensagens. No entanto, na quarta-feira seguinte, as mensagens cessaram. Grazielly, angustiada, pressentiu que algo estava errado. No dia seguinte, recebeu a notícia que tanto temia: sua mãe havia sido intubada. Começava, ali, um pesadelo que se arrastaria por três longas semanas. A família recebia apenas um boletim médico por dia. “Não dá para descrever nosso desespero. Implorávamos por informações, mas os médicos explicavam que, quando o telefone tocava fora do horário, era porque as notícias não eram boas. Cada ligação fazia meu coração disparar. Tínhamos muito medo de perder minha mãe”, relata Grazielly.
A situação de Regiane era crítica. Durante esse período, sofreu infecções, três paradas cardiorrespiratórias e precisou de uma traqueostomia, procedimento necessário para pacientes que permanecem intubados por longos períodos. O momento mais doloroso para Grazielly foi quando precisou assinar a autorização para a cirurgia. “Chegando ao hospital, entregaram-me os pertences da minha mãe. Foi desesperador, parecia um adeus. Chorei muito.”
A fé e a união da família foram fundamentais para atravessar esse período sombrio. A irmã de Regiane, Elaine, nunca deixou que perdessem a esperança. “Ela acreditava que Deus faria um milagre na vida da minha mãe”, conta Grazielly. No dia 2 de junho, um momento de pura emoção: enquanto a família fazia sua habitual oração por chamada de vídeo, o tio de Grazielly disse que sentia que, até o fim da prece, receberiam boas notícias. No meio da oração, o telefone tocou: era uma chamada de vídeo do hospital. “Foi lindo! Choramos muito, mas dessa vez, de felicidade. Depois de tanto tempo, vimos minha mãe acordada, sorrindo, mandando beijos. Mesmo sem voz, entendemos quando ela disse que nos amava. Foi emocionante.”
Após esse dia, ainda houve sustos, mas o pior já havia passado. Regiane foi transferida para a enfermaria, onde finalmente pôde receber visitas. A filha pôde lhe fazer companhia e testemunhar pequenos, mas significativos, avanços: o primeiro banho de chuveiro, as sessões de fisioterapia, cada pequeno progresso era uma vitória.
No dia 28 de junho, após quase dois meses de internação, Regiane recebeu alta. Ainda sente dificuldades para respirar e segue se recuperando lentamente, mas com gratidão. “Meu erro foi acreditar que poderia me tratar em casa. A tosse, o cansaço, a perda de olfato e paladar pareciam sintomas suportáveis, mas quando busquei ajuda, já era tarde. A recuperação é lenta, mas estar em casa é maravilhoso.”
Essa história é um lembrete da fragilidade da vida, do poder da fé e da importância de buscar atendimento médico no momento certo. A Covid-19 deixou marcas profundas, mas também revelou a força de quem luta pela vida.
Fotos arquivo pessoal Regiane Fenerich
Texto Adriana Biazoli