Por Adriana Biazoli, especial para o Nossa Oeste
O Festjan 2024 não foi apenas um evento musical; foi um espetáculo de emoção, talento e mensagens poderosas. O festival, que celebra a diversidade musical e dá voz a artistas independentes, revelou grandes nomes. Entre eles, Felipe MAD, que conquistou o segundo lugar com a impactante Lua de Fel.
Acompanhado por Marcos Ribeiro e DJ Malo, o rapper subiu ao palco não apenas para competir, mas para lançar um grito de resistência. Sua música denuncia a violência doméstica de maneira crua e necessária, emocionando o público e provando que a arte tem o poder de transformar realidades.
“Lua de Fel não é só uma música, é um grito. Muita gente vive essa realidade, e eu quis trazer essa mensagem para o palco, para que a dor dessas pessoas seja ouvida”, declara Felipe MAD.
Mas quem é o artista por trás dessa voz tão potente? O que moldou esse jovem que traduz em rimas as dores e esperanças de tantos? Em uma conversa sincera, Felipe abriu o coração e compartilhou sua trajetória – desde a infância marcada por desafios até o reconhecimento no cenário musical.
Infância e Primeiros Sonhos
– Qual sua lembrança mais feliz da infância?
“Meus primeiros natais. Quando todos ainda estavam presentes, eu via uma felicidade genuína. Não sei se era a inocência da idade, mas quando penso em momentos felizes, tudo me remete ao Natal.”
– Quem mais influenciou seus primeiros anos de vida?
“Sem dúvida, minha mãe. Ela me educou da melhor forma possível e me deu valores que carrego até hoje.”
– Houve algum momento difícil que moldou sua personalidade?
“O desaparecimento do meu pai quando eu tinha quatro anos. Fiquei sem um espelho paterno e vi minha avó sofrendo sem saber o que realmente aconteceu. Isso marcou minha vida.”
– Quando começou a sonhar com a música?
“Foi por volta de 1998, quando eu tinha uns oito ou nove anos. Meu padrasto era apaixonado por música, principalmente black music. Um dia, ele colocou um rap no último volume e aquilo me fascinou. A batida, a poesia… a cultura hip hop me conquistou ali. Comecei como ouvinte, mas aos doze anos escrevi meu primeiro rap e nunca mais parei.”
Adolescência e Desafios
– Como foi sua adolescência? Enfrentou dúvidas sobre seus sonhos?
“Foi um período complicado. Nunca me dei bem com a escola, o que gerou problemas em casa. Só na fase adulta fui diagnosticado com TDAH e ansiedade, o que explica muitas das dificuldades que tive. Um episódio marcante foi quando participei de um concurso de poesia na escola. A professora não acreditou que eu tinha escrito aquilo e me desclassificou. Isso me fez duvidar de mim mesmo.”
– Teve alguém que o inspirou nesse período?
“Odair , o ex-marido da minha mãe. A gente não se comunicava muito, a não ser quando o assunto era música. Além disso, os rappers que ouvia foram essenciais na minha formação. Me ensinaram sobre racismo, sobre a realidade das ruas, sobre respeito. O rap foi quase um pai pra mim.”
– Qual foi a maior lição que aprendeu na juventude?
“Respeito, lealdade e humildade. Esses são os pilares para uma vida social saudável.”
A Jornada na Música
– Como foi o início da sua carreira?
“Eu sempre gostei de escrever. Aos doze anos, escrevi minha primeira composição e, a partir dali, nunca mais parei. Minha carreira começou nesse ponto.”
– Qual foi seu maior desafio até aqui?
“Enfrentar meus medos. Todos sentimos medo, o problema é quando ele nos domina. Temos que seguir em frente apesar dele. Depois que superamos, percebemos que nossos sonhos são maiores do que qualquer obstáculo.”
– Já pensou em desistir? O que o fez continuar?
“Já tive momentos de dúvida, mas nunca foi algo real. Quando a gente ama o que faz, é impossível desistir. Às vezes paramos para respirar, repensar caminhos, mas no fim sempre voltamos à arena.”
– O que considera sua maior conquista até agora?
“Já fui premiado, já fiz dinheiro com a minha arte, mas minha maior conquista de verdade foi tocar corações. Isso vale mais que qualquer troféu ou cachê.”
Reflexão e Legado
– Se pudesse definir sua jornada em uma palavra, qual seria?
“Reticências. Enquanto houver vida, haverá desafios. A história nunca termina, sempre há um novo capítulo a ser escrito.”
– O que sua história ensina para quem sonha em seguir esse caminho?
“Que somos capazes de ser e fazer o que quisermos. Nada é impossível. Se sua arte te arrepia, siga em frente com amor e fé. As coisas vão se encaixar.”
– Que conselho daria para quem está começando agora?
“A caminhada não é fácil, mas pode ser bonita. O sol brilha para todos. Faça com o que tiver, mesmo que seja pouco. O importante é fazer.”
– Como quer ser lembrado no futuro?
“Como alguém que ajudou o próximo sem precisar pisar em ninguém para chegar onde queria.”
– E qual é seu maior sonho hoje?
“Viver da minha arte. Acho que esse é o sonho de todo artista.”
– O que significa sucesso para você?
“Ver minha família bem e ter paz quando coloco a cabeça no travesseiro.”
Felipe MAD não apenas faz música, ele constrói pontes entre a dor e a esperança, entre a realidade e o sonho. Sua trajetória é prova de que a arte, quando sincera, pode ser a voz que tantos precisam ouvir. E que, no fim, a luta continua… reticente como a vida.
Sobre a composição
Descrição do Rap “Lua de Fel” – Um Grito Contra a Violência Doméstica
“Lua de Fel” é um apelo social profundo e doloroso, que denuncia os ciclos de violência doméstica e a desconstrução de sonhos românticos idealizados. A letra narra a trajetória de uma mulher que, iludida por promessas de amor eterno, vê seu mundo desmoronar em um relacionamento abusivo.
O início da música retrata a ilusão do amor perfeito – um futuro colorido que logo se transforma em marcas roxas. A metáfora do “buquê florido” contrasta com o gosto amargo da dor, simbolizando a transição da paixão para o sofrimento. O uso de imagens como “carta aromatizada mentirosa” reforça o engano e a manipulação emocional, enquanto a ideia de “um romance de fábula que perde a graça” sugere o choque entre o conto de fadas e a dura realidade.
A dor física e emocional é traduzida em versos densos e poéticos, onde cada lágrima pesa como uma tonelada e o coração se torna uma fábrica de neve – um lugar frio e vazio. A relação abusiva é comparada a uma curva sinuosa prestes a causar uma colisão, remetendo ao perigo iminente que muitas vítimas enfrentam.
O refrão é o ponto de ruptura, onde a promessa de um amor eterno se desfaz no impacto da violência: “Te prometeu a lua, te ofereceu estrelas / Te garantiu uma paixão que era pra vida inteira / Só que era fantasia, o sonho de princesa / Acordou num tapa, o sonho perdeu a beleza.” Aqui, a quebra da idealização romântica é exposta de forma brutal, mostrando que, para muitas mulheres, o amor prometido se transforma em medo e dor.
A segunda parte da música traz a solidão e o desespero da vítima, que, ao buscar respostas em cartas de tarô, encontra apenas a previsão do sofrimento. A imagem da mulher lavando hematomas remete à tentativa de apagar as marcas da violência, tanto físicas quanto emocionais. A nostalgia de um tempo inocente e a vontade de voltar à infância reforçam o peso da dor e o desejo de recomeço.
A música culmina em versos intensos e chocantes, onde a vítima tenta silenciar a dor com entorpecentes, mas a realidade é implacável. O “beijo açucarado” que antes parecia doce revela-se um veneno, um pacto inconsciente com um destino trágico. O castelo desmorona, e a história que começou como um conto de fadas se torna um romance suicida, encerrando a letra com uma reflexão dura e realista sobre o ciclo da violência.
“Lua de Fel” não é apenas uma música, mas um manifesto. A composição denuncia, emociona e provoca reflexão, dando voz a tantas mulheres que vivem histórias semelhantes. É um alerta para a urgência de quebrar esse ciclo e lembrar que o amor não deve doer.
Felipe Mad é um jovem que não busca glória, eu particularmente gostaria que suas composições pudessem dar volta ao mundo, não só isso, gostaria que pudesse ser compreendida de tal forma que extirpasse todo o egoísmo que transforma um sonho de princesa em fel.
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