Nascida sob o calor do Norte e amadurecida pelas cores e contrastes de São Paulo, Rita de Cássia Rodrigues — ou simplesmente Ritinha — é daquelas mulheres que transformam o ordinário em poesia. Com uma câmera nas mãos e memórias no coração, ela eterniza rostos, momentos e emoções que, não fosse por sua sensibilidade, talvez passassem despercebidos ao mundo.
Fotógrafa por vocação, agente cultural por compromisso e artista por essência, Ritinha é feita de coragem ancestral, da alegria das festas de forró na infância às lutas silenciosas que travou contra a dor, o preconceito e a invisibilidade. Cada clique seu carrega mais do que uma imagem: carrega a história de uma mulher que venceu, que resistiu e que decidiu transformar sua jornada em luz para outras mulheres.
“Quem é Rita de Cássia Rodrigues?”
Nascida em 11 de março de 1980, no coração do Pará, Rita traz consigo a força de suas raízes e a doçura do Norte. Filha de Maria Salomão Batista e Aulinto Cândido Batista (falecido), aprendeu cedo sobre coragem e recomeços. Ainda criança, migrou com os pais e os quatro irmãos para Jandira, em 1982. Foi ali, entre a alegria das festas familiares e os desafios da nova cidade, que se moldaram os traços mais profundos da mulher que viria a ser.
Com os irmãos, Rita construiu uma convivência pautada em amor e proteção. E foi observando a bravura silenciosa de seus pais — que, com poucas posses, mas muito sonho, refizeram a vida em São Paulo — que ela aprendeu seu primeiro ofício: o de acreditar no impossível.
A seguir, conheça os caminhos que moldaram essa artista da alma.
Entrevista com Rita de Cássia Rodrigues (Ritinha)
Infância e adolescência: onde tudo começou

Onde passou sua infância? Que memórias guarda dessa fase?
Cresci em Jandira, nos bairros Figueirão e Brotinho. As festas em casa, com muito forró e alegria, marcaram meus primeiros anos.
Quem era a Ritinha criança?
Teimosa, respondona, mas determinada e competitiva. Sempre fui intensa, mesmo pequena.
Teve alguma figura marcante na infância?
Além da minha mãe e das minhas irmãs, duas professoras me marcaram profundamente: Vandreia e Cirene.
Como foi sua adolescência?
Cheia de amizades, brincadeiras de rua e desafios. Desde cedo comecei a trabalhar para ter meu próprio dinheiro.
Arte, fotografia e missão
Quando a arte entrou em sua vida?
Através da câmera fotográfica. Primeiro como hobby, depois como profissão.
Você teve apoio ou precisou abrir caminho sozinha?
Tive apoio da família, mas abri meus próprios caminhos com muita coragem.
Qual o papel da sua família na sua formação como mulher e artista?
Minha família foi essencial como base emocional e inspiração. Todos, de alguma forma, participaram das minhas “loucuras fotográficas”.
Como e quando a fotografia te escolheu?
Na adolescência e juventude, sempre tive uma câmera por perto. Mas a vontade de profissionalizar nasceu com o nascimento da minha filha. Meu mestre Oreste Bonaldi foi quem me incentivou e me deu as primeiras oportunidades.
Que legado Oreste Bonaldi deixou em sua vida?
Ele me ensinou a observar a emoção e transformar o instante em algo eterno. Ele me ensinou a olhar com o coração.
Fotografia: entre memórias e identidade
O que a fotografia representa para você?
É a essência da alma eternizada em imagem. É vida, missão e forma de existir. Ela me permite contar histórias que não cabem em palavras.
Há um clique inesquecível?
Sim. Uma fotografia que fiz do meu pai no Pará. Ela representa a luta dele e da minha mãe para vencer na vida.
Como nasceu o projeto com as mulheres de Jandira?
A exposição “Beleza Revelada” foi meu primeiro grande projeto. Fotografei mulheres incríveis da cidade com muito carinho. Foi um divisor de águas na minha carreira.
Superação: o corpo, o tempo e a fé
Qual foi o maior desafio que enfrentou em relação à saúde?
Em 2012, enfrentei uma doença que demorou dois anos para ser diagnosticada. Fiquei com 38 quilos, me alimentava por sonda. Só em 2014, após uma cirurgia, passei a usar um aparelho no esôfago que uso até hoje.
O que aprendeu com isso?
A valorizar o tempo, a vida e as pessoas verdadeiras. Hoje, tudo mudou: minha forma de viver, de olhar, de fotografar. A doença me transformou.
Cultura e transformação
O que significa ser agente cultural em Jandira?
Significa buscar o melhor para o coletivo. Por isso, me tornei conselheira de cultura. Quero ajudar a revelar os talentos escondidos da cidade.
Como enxerga o cenário cultural da cidade?
Jandira é rica em cultura, mas falta acesso aos editais, incentivos e formação para novos artistas.
As mulheres artistas ainda enfrentam barreiras?
Sim, muitas. Ainda existe muito preconceito. Ser artista mulher sempre foi uma luta.
Como sua arte contribui para mudar isso?
Eu preservo memórias, conto histórias reais e busco sempre valorizar as mulheres e os artistas locais.
Legado e futuro
O que ainda te move?
Ver minha filha Yasmin bem, realizada e toda minha família felizes e com saúde.
Há algum projeto que ainda deseja realizar?
Sim! Quero realizar ainda este ano a exposição “Olhar de Artista”, com outros seis artistas locais.
O que gostaria que as futuras gerações aprendessem com sua história?
Que não desistam. Que aprendam com as quedas e sigam firmes com a cabeça erguida.
Se pudesse deixar uma única imagem como legado, qual seria?
A de uma mulher justa, que nunca precisou prejudicar ninguém para vencer.
E se pudesse sussurrar algo para a Ritinha do futuro?
Diria: se cuide mais, você merece o melhor. E à do passado, diria o mesmo.
Ritinha revela, por meio de suas lentes, a beleza que o espelho muitas vezes não alcança. Capta a luz que o tempo levou e, de repente, nos vemos com mais doçura, acolhendo quem somos com aceitação. Hoje, Rita de Cássia é mais do que uma fotógrafa — é símbolo de resistência, afeto e reconstrução. Cada retrato seu carrega fragmentos de uma jornada intensa: a de quem quase parou, mas escolheu seguir; de quem caiu, mas transformou a dor em arte.
https://ritacultura2017.wixsite.com/website
ritinharodriguesfoto@gmail.com
Instagram: @ritinharodriguesfoto
WhatsApp: (11) 9 3758 -7083
Por Adriana Biazoli
Jornalista
Imagens: Rede Social