Entre Rugas e Lições: O Que o Espelho Não Mostra

Coluna

Janeiro marca o início de um novo ciclo. É também o apagar das velas para uma nova etapa na minha vida.

Mesmo que eu não admita, olhar no espelho torna-se, a cada dia, menos frequente. Lidar com as mudanças que a idade impõe não é fácil. Pode ser para alguns, mas preciso confessar aos meus leitores e amigos: para mim, nunca foi e ainda não é.

Compreender que a máquina do corpo se desgasta, assim como tudo o que é material, não é simples. A matéria orgânica sente os impactos da alimentação inadequada e sofre com os excessos que praticamos. Cuidar desse corpo, que nos é ofertado por comodato, é uma escolha que nos cabe fazer.

Tudo o que fazemos, de um jeito ou de outro, se reflete na nossa imagem. O efêmero se esvai, cumpre seu propósito e se transforma. A beleza de outrora não se restituirá e, quanto antes aceitarmos isso, melhor.

Estamos todos a caminho da finitude. Se chegamos até aqui, é porque cuidamos dessa máquina – ainda que de forma imperfeita.

Vale lembrar que a matéria é finita, mas o espírito, não. O caminho percorrido nos transforma no que somos hoje – pessoas melhores ou não. Quando reconhecemos nossas deficiências morais e buscamos corrigi-las, embelezamos o espírito. E é ele que nos conduzirá a esferas maiores.

A indústria da beleza nos oferece ferramentas para lidar com essa transição. Se utilizada com equilíbrio, pode ser um remédio valioso para aceitar, de maneira menos dolorosa, as transformações que o tempo traz. Somos seres que se desgastam. Faz parte da nossa natureza ter rugas, cabelos brancos e passos mais lentos.

Evitar o espelho é compreensível. Mas, quando olhar para ele, faça-o sem sofrimento. Seja grata pelo tempo vivido, pela jornada percorrida, pelos aprendizados, pela resiliência e por tantas vitórias. A vida é um presente e, acima de tudo, uma oportunidade.

 

Adriana Biazoli

jornalista/poeta

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