Há dores que florescem na coragem. Histórias que começam nas ruas simples de uma cidade e, com o tempo, se tornam abrigo para outras vidas. Daniella Rodrigues, trancista há 12 anos, empreendedora e professora, tem uma trajetória que não se tece apenas com fios, mas com alma, ancestralidade e uma força silenciosa que aprendeu a se levantar até quando não sabia mais como.
Filha de Aparecida Ivone e Anésio, Daniella cresceu em Jandira entre brincadeiras na rua, dias difíceis e uma felicidade resistente. Hoje, aos 42 anos, mãe de três, Hillary, Denzel e Heitor, ela olha para trás e entende que seu trabalho é mais do que estética: é reparação, cura, recomeço.
Filha caçula de sete irmãos, criada em Jandira por uma mãe incansável, Daniella cresceu entre dias difíceis e alegria teimosa. Brincava na rua, aprendia com o pouco que tinha, e sonhava apenas em trabalhar para ajudar em casa. Não imaginava tranças, salões, oficinas, cultura afro-brasileira, imaginava sobrevivência.
Mas o destino é caprichoso, e a beleza encontrou Daniella quando ela menos esperava. Depois de ver a irmã trançar cabelos na 24 de Maio, uma tia a usou como cobaia. Ao se olhar no espelho, algo acendeu: a menina pobre, tímida e sem sonhos percebeu que poderia ser bela, forte, dona de sua história. Aprendeu a se trançar sozinha. A mãe, mesmo com tão pouco, dava o dinheiro para comprar material.
O que começou como necessidade virou caminho, renda, propósito.
Hoje, aos 42 anos, mãe de três, Daniella é trancista, professora, empreendedora e dona do Salão Conceito Black, um espaço nascido da coragem de largar o emprego em plena pandemia.
“Tive medo, muito medo. Mas precisei tentar”, conta.
Sua trajetória, porém, não é feita só de conquistas. Em 2023, Daniella tocou o fundo do poço. Aproximava-se da depressão sem perceber, culpando o outro por dores que já não cabiam dentro dela. Só encontrou saída quando procurou terapia e reencontrou duas mulheres que se tornaram suporte emocional, luz, respiro.
“Elas foram meu divisor de águas.”
Reconstruída, Daniella voltou a sonhar. Voltou para a academia, para a dança e para a alegria. Se aproximou da espiritualidade, da ancestralidade, e reconheceu a força das vozes que vieram antes dela.
Em meio a tudo isso, nasceu o projeto “Entre Tranças e Origens”, aprovado pelo Fundo de Cultura de Jandira. O projeto leva cultura afro-brasileira, história e técnica para comunidades vulneráveis, formando jovens e adultos que buscam novas oportunidades. Ali, Daniella não só ensina: aprende. Aprende paciência, sensibilidade, potência. Aprende que as tranças não são apenas estética, são memória, resistência e futuro.

Há histórias que marcam. Como a de uma aluna africana que sonha em sustentar a filha como trancista, a menina sofre com crises de ansiedade. É nessas vidas, nesses olhares, que Daniella percebe: sua missão é transformar.
Seu sonho agora é crescer. Construir um salão maior, viajar, cursar Psicologia, realizar encontros de trancistas da região oeste. Ensinar, compartilhar, empoderar.
Se pudesse falar com a menina que foi um dia, diria:
“Obrigada pela coragem. Hoje o mundo nos espera.”
E espera mesmo. Porque Daniella é uma mulher que tece caminhos, para si e para os outros. E seu legado é claro: amor, respeito, empatia e a arte ancestral que ela carrega com dignidade e verdade.

Instagram: negra.dani25
Redação Nossa Oeste – Jornalismo com propósito
Fotos : Rede Social

