(com o olhar e a emoção de uma filha inesperada)
Ao tomar conhecimento de sua partida, senti-me órfã.
Sim… fui tomada, subitamente, por uma dor que demorou a fazer sentido.
Não frequento missas. Minha única ligação com a Igreja Católica é a certidão de batismo — e só.
Sentada à mesa, com o café ainda quente diante de mim, comecei a ver as notícias chegando.
Junto com elas, as imagens de Francisco.
Chorei copiosamente. Como quem perde um pai.
E me surpreendi com a força daquele sentimento.
“Por que essa dor tão profunda?”, me perguntei.
A resposta veio no silêncio…
Veio no amor.
Eu o amava.
E não tinha percebido até que ele partisse.
Na minha humilde opinião:
os verdadeiros representantes de Deus são aqueles que propagam a paz, a união entre os povos — nunca a divisão, nunca o ódio às diferenças.
Talvez tenha sido essa orfandade que me fez chorar por tantas horas…
Francisco foi o Papa que não precisava dizer o que era.
Bastava vê-lo.
De batina branca, sapatos pretos ortopédicos — os mesmos de quando era arcebispo de Buenos Aires.
A simplicidade em cada gesto mostrava que ele não se colocava acima de ninguém.
Ele caminhava entre pobres e reis.
Entre fiéis e céticos.
Entre santos… e feridos.
Quando ainda cardeal, preferia o ônibus ao carro oficial.
Já Papa, escolheu viver na Casa Santa Marta, e não nos palácios dourados.
Um sorriso tímido era sua coroa.
Era um homem de gestos, não de tronos.
Um líder que se ajoelhava.
Que fez da humildade um púlpito.
E da escuta… uma homilia.
Sua morte — anunciada em 21 de abril de 2025 — não levou apenas o chefe da Igreja.
Levou aquele que nos devolveu a imagem de um Cristo vivo.
Aquele que tocava leprosos.
Que caminhava entre excluídos.
Que fazia da fé um lugar de acolhida — e não de condenação.
O testamento, escrito de próprio punho, é tão simples quanto sua alma:
Desejou ser enterrado no chão da Basílica de Santa Maria Maior, onde tantas vezes orou em silêncio.
Nada de ouro, nada de mármore. Nenhum adorno.
Apenas uma inscrição:
Franciscus.
A urna, simples.
As despesas, custeadas por um amigo anônimo.
O gesto?
Um resumo da vida inteira de Francisco:
sem ostentação, sem privilégio. Com entrega.
Na intimidade, era como o descreviam os que o conheciam bem:
um homem de fé inabalável, de senso de humor sincero, de alma leve.
Amava os pequenos.
Os diferentes.
Os cansados.
Estendeu os braços àqueles que a própria Igreja, tantas vezes, havia deixado à margem.
E os trouxe de volta ao centro.
Seu nome — Francisco, em homenagem ao santo de Assis — não era um título.
Era um caminho.
Francisco foi — e será para sempre — o Papa do chão.
E por isso, é insubstituível.
Deixou um legado de amor, de inclusão e compreensão.
Seguiu os passos e os ensinamentos de Cristo!
Hoje, somos muitos os órfãos.
Mas somos, também, eternos filhos de Francisco.
Porque mesmo sem sabermos…
nós o amávamos.
Sobre a autora:

Por Adriana Biazoli –22/04/2025
Adriana Biazoli é jornalista, escritora, contadora de histórias e apaixonada pela arte de comunicar. Já atuou como radialista, apresentadora de TV e mestra de cerimônias, mas é entre crianças, festas e histórias que encontra sua verdadeira paixão. Com olhar sensível e escuta atenta, transforma encontros do cotidiano em narrativas que tocam o coração. Seu propósito é ensinar pessoas a se comunicar bem — com palavras, com presença e com afeto.
Instagram: adrianabiazoli
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