Não Me Chame de Guerreira: A Romantização da Mãe Solo e Seus Efeitos

Coluna Mulher
Adriana Biazoli

“Você é uma guerreira.”
A frase vem com boas intenções. Cheia de admiração. Mas, muitas vezes, é como um tapa suave no ombro de quem está carregando o mundo nas costas — sozinha, cansada e, às vezes, quase invisível.

Ser chamada de guerreira pode até soar bonito. Mas por trás desse rótulo existe um silêncio profundo sobre tudo o que está faltando: apoio, tempo, rede, descanso, escuta, dignidade.

Porque ser mãe solo não é sobre heroísmo.
É sobre sobrevivência.


O rótulo que abraça com uma mão e abandona com a outra

A romantização da mãe solo é uma armadilha sutil. A mulher que cria sozinha seus filhos — seja por escolha, abandono, viuvez ou outras circunstâncias — é constantemente colocada no lugar da super-heroína. Ela é exaltada por “dar conta de tudo”, mas quase nunca perguntam se ela queria dar conta de tudo sozinha.

E aí mora o perigo: quando exaltamos demais a força, esquecemos de olhar para a dor.

Essa mãe não é forte o tempo todo porque quer. Ela é porque precisa. Porque, se ela cair, não tem ninguém na retaguarda.


A romantização silencia necessidades reais

Enquanto a sociedade chama de guerreira, raramente se pergunta:

  • Essa mulher tem rede de apoio?

  • Quem cuida dela enquanto ela cuida de tudo?

  • Ela tem acesso a políticas públicas de qualidade, trabalho digno, saúde mental?

  • Ela é ouvida sem julgamento?

Chamar de guerreira, nesse contexto, se torna uma forma de dizer: “Te admiro, mas não vou fazer nada pra te ajudar.”


Depoimentos que rasgam o coração

Conversamos com algumas mães solo que escutam esse termo com frequência. O que elas disseram machuca e revela:

“Ser guerreira cansa. E ninguém pergunta se eu tô bem.”
“Parece que tenho que ser grata por aguentar tudo calada.”
“Quando falam isso, sinto que não posso fraquejar nunca.”

Quantas dessas frases moram em silêncios profundos que ninguém ouve?


O que dizem as especialistas

A psicóloga Luciana G. explica:

“A romantização transforma a exaustão em virtude. Isso afasta a empatia e legitima a ausência de suporte.”

Já a assistente social Mariana R. afirma:

“Mães solo precisam de acolhimento real: tempo, política pública, escuta ativa. Não de medalhas simbólicas por resistirem.”


O que elas gostariam de ouvir?

Mais do que elogios vazios, elas sonham com frases simples e transformadoras:

  • “Você precisa de ajuda?”

  • “Como posso te apoiar?”

  • “Quer conversar?”

  • “Você não precisa dar conta de tudo.”


Mais do que homenagear, apoiar de verdade

Ser mãe solo não é escolha para todas. Mas deveria ser uma jornada mais leve para todas. E isso não se conquista com palavras bonitas, e sim com presença, políticas e respeito.

A próxima vez que você olhar para uma mãe solo e pensar em chamá-la de guerreira, tente algo diferente.

Ofereça apoio. Faça parte da rede. Divida o peso.

Afinal, ninguém deveria guerrear todos os dias só para ser reconhecida como forte.

Sobre a autora:

Adriana Biazoli é jornalista, escritora, contadora de histórias e apaixonada pela arte de comunicar. Já atuou como radialista, apresentadora de TV e mestra de cerimônias, mas é entre crianças, festas e histórias que encontra sua verdadeira paixão. Com olhar sensível e escuta atenta, transforma encontros do cotidiano em narrativas que tocam o coração. Seu propósito é ensinar pessoas a se comunicar bem — com palavras, com presença e com afeto.

Instagram: @adrianabiazoli

Email: biazoliadriana@gmail.com

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Você conhece uma mãe solo que merece ter sua história contada, por toda sua dedicação e resiliência se souber,  me escreva, adoraria saber!

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