Moradora de Jandira, Shirley Lima – Mães Corações Valentes PCD, conta sua história com duas crianças atípicas

Mulher Jandira
“Medo? Meu maior medo é morrer e não vê-los independentes… Ter que deixá-los dependendo de pessoas que talvez não os compreendam.”

Filha da diarista Luzinete Pereira Lima e do senhor José Roberto Velozo da Silva, Shirley Lima Cerqueira da Silva nasceu em 27 de abril de 1993, no estado de São Paulo. Sonhava em ser advogada, ter três filhos e morar em uma linda e espaçosa casa. Órfã de pai aos dois anos, cresceu ao lado de três irmãos e quatro primos, todos criados juntos. A mãe e a tia, viúvas na mesma época, uniram as famílias sob um mesmo teto, em uma casa com poucos cômodos, para diminuir os custos da sobrevivência.

Dona Luzinete, sua mãe, trabalhava como diarista e, nos fins de semana, fazia bicos em bingos. Ainda assim, a vida era dura, com muitas dificuldades. A infância, embora simples, foi recheada de aventuras ao lado dos irmãos e primos. Aos oito anos, Shirley já ajudava os tios na feira. E das memórias dessa fase, seus olhos ainda brilham:

“Para mim, a maior diversão era a época das gincanas na escola. No fim do dia, tomávamos banho de chuva. Também lembro com carinho das cocadas que fazíamos para vender… e comer juntos.”

Shirley concluiu o ensino médio e entrou no mercado de trabalho cedo, contribuindo com as despesas do lar. Sobre o casamento e a maternidade, reflete com honestidade:

“Pensando bem, tudo aconteceu muito cedo. Conheci meu esposo, Cassiano Alves Cerqueira da Silva — meu primeiro namorado. Logo decidimos morar juntos, e não demorou até que eu engravidasse…”
Samuel – filho mais velho de Shirley

Shirley é mãe de quatro filhos: Samuel da Silva Ribeiro (15), Thiago Xavier da Silva Ribeiro (12), Gabriel Natan Alves da Silva (9) e Elias Alves da Silva (6). As gestações foram delicadas. Quando engravidou de Thiago, o segundo filho, não foi planejado. Enfrentava problemas de saúde e estava em tratamento para um cisto no ovário. Ao confirmar a gravidez, a médica sugeriu uma curetagem, mas Shirley recusou:

“Thiago é um guerreiro. Desde o início, os médicos não acreditavam que ele sobreviveria.”

Todas as gestações, embora não planejadas, foram profundamente desejadas. Na gravidez de Gabriel, o terceiro filho, vieram novas surpresas — nenhuma agradável. Enlutada pela perda de pessoas próximas, enfrentando mudança de cidade e muitos percalços, veio a notícia da nova gestação.

No terceiro trimestre, exames apontaram toxoplasmose. Já não havia tempo para tratamento preventivo com antibióticos:

“Tive que tomar muitos remédios, passava mal, e o medo era constante. Gabriel nasceu prematuro, precisou de internação e iniciou um tratamento rigoroso antes de vir para casa. Mas graças a Deus, vencemos mais essa.”

Há dez anos, a família mora na casa da sogra, mãe de Cassiano — moradia gentilmente cedida. Shirley afirma que a maternidade é um aprendizado diário, cheio de surpresas:

“É uma loucura, algo difícil de explicar. Só quem vive de perto entende. Meu conselho? Não crie expectativas baseadas em outras pessoas. Cada um tem seu tempo, seus limites. O que é pequeno para um pode ser o fim do mundo para outro.”

Diagnósticos – Um caminho solitário

Thiago, o segundo filho, foi diagnosticado com atraso mental — um desenvolvimento intelectual incompleto. Ainda nos primeiros dias de vida, apresentou alterações. Levaram-no ao pronto-socorro, onde exames mostraram que seu pulmão não estava totalmente fechado. Ficou internado, foi entubado. Três longos meses no hospital.

“Recebi a alta com uma guia na mão e o encaminhamento para o neurologista na outra. Os médicos disseram para eu não ter expectativas: talvez ele não andasse, talvez não falasse. Eu era jovem, não entendia a complexidade daquilo tudo… E não tinha ninguém que me orientasse. Segui como pude, trabalhando e levando-o às terapias.”

Sem ter com quem deixar os filhos, Shirley levava Gabriel, então com quatro anos, às terapias de Thiago. Foi observando o pequeno que os profissionais sugeriram uma avaliação. O diagnóstico de autismo, nível II de suporte, veio formalmente aos seis anos.

“Segui meus dias em solidão. Eu e Deus. Não tinha rede de apoio, a família não morava perto. Algumas pessoas cuidaram dos meninos para que eu pudesse trabalhar, mas o apoio emocional… esse, faltava. Fraquejar não era opção. Tive que ser firme.”
Shirley com Thiago e Elias

Mesmo com as dificuldades, ela procura enxergar os dias com gratidão:

“Cada dia traz uma nova surpresa. Tento olhar o lado bom. Se contarmos só os dias ruins, acabamos por não viver. E se nos fixarmos nas dificuldades desde que acordamos até o momento de dormir… a vida passa.”

Mães Corações Valentes PCD

Reunião com Fraternidade Corações Valentes

Uma mãe nunca está sozinha. As conexões acontecem nas salas de espera, nas clínicas, nos hospitais. Foi assim que Shirley conheceu Rosangela Tristão (Roh Estrela), na APAE. Participou da primeira caminhada dos autistas em 04 de abril de 2023. Da amizade, nasceu um sonho compartilhado. Criaram juntas o grupo Mães Corações Valentes PCD.

“Nossa luta não precisa ser solitária. Podemos nos unir, reivindicar melhorias. Sabemos das dificuldades e podemos contribuir para que o município nos atenda minimamente. Afinal, moramos aqui, pagamos nossos impostos.”

Ser mãe já é desafiador. Ser mãe atípica é uma travessia. Todas as mães têm medo de partir sem deixar os filhos prontos. Mas, na vivência atípica, esse medo ganha proporções maiores.

“Medo? Meu maior medo é morrer e não vê-los independentes… Ter que deixá-los dependendo de pessoas que talvez não os compreendam.”

Hoje, os sonhos daquela menina que queria ser advogada mudaram. Os desejos não são mais sobre si. Ela sonha com algo maior — e mais simples.

Shirley com Thiago e Gabriel
“Meu sonho é poder oferecer a eles — e a todos — uma vida melhor. Ser uma pessoa boa, todos os dias. E esquecer que, muitas vezes, nesta vida, existem mais dificuldades do que oportunidades.

Mesmo diante das dificuldades, Shirley não parou de sonhar. Recentemente, deu um passo em direção ao seu propósito maior: ingressou na faculdade de Assistência Social, no ensino a distância pela Cruzeiro do Sul.

“Pra eu poder ajudar outras pessoas… Ser um canal de bênção através dessa área, assim como uma assistente social foi na minha vida. E porque amo ser prestativa… me doar a algo que realmente vale a pena, que é fazer a diferença na vida de quem precisa de uma ação em um momento difícil.”

Vamos juntos fortalecer essa rede de amor e empatia. Compartilhe essa história, deixe seu carinho nos comentários, uma palavra de apoio, um gesto de afeto. Toda mãe merece ser acolhida — e essa, com seu coração valente, ainda mais. 💜

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Texto: Adriana Biazoli
Fotos: Redes Sociais

 

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